Segundo dados do IBGE, no Brasil, 6,5 milhões de pessoas são deficientes visuais com menos de 200 cães-guia em atividade

Todos os anos, na última quarta-feira de abril comemora-se internacionalmente o Dia do Cão-Guia. A data, tem objetivos que vão além de parabenizar os cães que cumprem este digno papel de serem os olhos daqueles que não podem ver, ela tem como propósito conscientizar sobre a importância desses animais e seu papel na inclusão social das pessoas que apresentam alguma deficiência visual, assim como levar ao conhecimento da população sobre como agir ao encontrar um cão-guia que estiver a trabalho.

No mundo, estima-se que a cegueira afeta mais de 39 milhões de pessoas e 246 milhões tem perda moderada ou severa de visão, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). No Brasil existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo 582 mil cegas e 6 milhões com baixa visão, segundo o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Porém, o número de cães-guia em relação ao de pessoas com deficiência visual é extremamente baixo: existem menos de 200 cães no Brasil.

No mundo, o problema se repete: existem aproximadamente 98 organizações que formam os cães, em 33 países, associadas a Federação Internacional de Cão-Guia.

A boa notícia é que existem algumas entidades voltadas para a causa e formação de novos cães, embora seja um processo longo e que exija bastante dedicação dos envolvidos.

Historicamente, as primeiras documentações de cães exercendo o papel de guia são do século 16. Segundo a Federação Internacional de Cães-Guia, o primeiro treinamento especializado neste suporte foi em meados de 1780, no hospital para deficiência visual Les Quinze-Vingts, em Paris, mas apenas em 1916 foi fundada a primeira escola exclusiva para a formação do cão-guia.

Esses cães são capazes, por exemplo, de navegar em ambientes complexos e seguir comandos específicos. Eles se tornam olhos e companheiros confiáveis, permitindo que seus usuários superem desafios diários e vivam de forma mais independente.

A coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Anhanguera, Jenessa Martinez, explica que além do suporte prático diário, os cães-guia também são capazes de oferecer um apoio emocional valioso. “Esses cachorros se tornam companheiros leais e constantes, ajudando a reduzir a solidão e o isolamento. São animais incríveis e fontes de conforto e afeto, contribuindo para o bem-estar emocional de seus usuários”, destaca a docente.

Além disso, a coordenadora detalhou outros impactos positivos que o animal pode trazer à vida de seus donos:

  1. Mobilidade e segurança: Os cães-guia são especialistas em guiar pessoas com deficiência visual em ambientes variados, como ruas movimentadas, estações de transporte público e espaços públicos. Eles ajudam a evitar obstáculos, como degraus, objetos no caminho e perigos potenciais, garantindo que seus usuários se movam com segurança e confiança;
  2. Autonomia e independência: Com a assistência de um cão-guia, as pessoas com deficiência visual ganham maior autonomia em suas atividades diárias. Eles podem realizar tarefas como ir às compras, frequentar locais públicos, viajar e participar de eventos sociais, sem depender tanto de ajuda externa. Essa independência melhora a autoestima, a confiança e a qualidade de vida dos indivíduos;
  3. Conexão social: Os cães-guia também facilitam a interação social de seus usuários. Eles agem como “quebra-gelos” naturais, atraindo a atenção positiva das pessoas ao redor e iniciando conversas. Essa conexão social é essencial para combater o estigma associado à deficiência visual e promover a inclusão em todos os aspectos da vida.

Curiosidades sobre os cães guias

Para comemorar a data, a Vetnil, uma das maiores empresas brasileiras no setor veterinário, aproveita para divulgar algumas curiosidades e pontos importantes sobre os cães-guia.

Como se formam os cães-guia

O processo de formação de um cão-guia leva em média 18 meses e é coordenado por instituições especializadas nesse tipo de treinamento. Aos dois meses de vida, o cão-guia fica sob a guarda de uma família socializadora, que ficará responsável, durante um ano, por sua apresentação à sociedade e atividades comuns do dia a dia, como utilizar o transporte público, ir a bancos, parques, entre outros lugares. Após esse período, o cão recebe um treinamento específico para sua função por mais alguns meses, até ser direcionado ao seu tutor definitivo.

Não interaja com um cão-guia em atividade

Embora estejamos acostumados a interagir com os pets, ainda que seja em um ambiente público, um cão-guia está a trabalho e precisa estar atento a tudo ao seu redor. Por isso, não devemos brincar, acariciar ou oferecer alimentos a um cão em atividade, já que isso pode atrapalhar seu desempenho e colocar em risco a segurança do seu tutor. Para o cão, de acordo com o treinamento recebido, enquanto ele estiver com a guia, sabe de suas responsabilidades e lida muito bem com elas.

Um direito assegurado por lei

A lei federal 11.126/2005 e o decreto 5.904/ 2006 asseguram o direito de ingresso e permanência do cão-guia junto ao seu tutor, instrutor, treinador ou voluntário socializador em qualquer ambiente de uso coletivo. Portanto, é preciso respeitar tanto o acompanhante, quanto o animal, independente da fase de treinamento ou atuação que se encontre.

Quando um cão-guia se aposenta

Os cães-guia ficam em atividade por aproximadamente 8 anos, já que começam a trabalhar por volta do segundo ano de vida. Esse tempo pode variar para mais ou para menos, de acordo com as condições de saúde e disposição do animal. Uma vez aposentado, o cão-guia torna-se um pet e passa a conviver com o tutor, aproveitando o descanso merecido, após os anos de dedicação.

Qual é a raça do Cão Guia ?

Segundo a veterinária Jade Petronilho, especialista da Petlove, a raças mais procurada para cumprir essa função é o Labrador e o Golden Retriever. Mas existem cão guias que também são uma misturas de raças, como o labradoodle (labrador com poodle gigante), goldendoodle (golden com poodle gigante) e o cruzamento entre golden e labrador, ainda que o Pastor Alemão, por exemplo, também possa ser algumas vezes cotado para o serviço.

As duas primeiras raças são reconhecidas mundialmente por sua inteligência e obediência, além de serem muito amáveis. O Pastor Alemão já tem função garantida em polícias, cavalarias e fazendas, mas está mais do que habilitado para a função de guia. O cão só não é mais procurado para este trabalho por preconceito com sua “cara de mau”.

Embora seja considerado o cão mais inteligente do mundo, o Border Collie em algumas ocasiões pode ser um cão-guia, mas por muitos exemplares serem extremamente ativos e rápidos em seus movimentos, podem nem sempre ser ideais para a missão.

O mix de poodle gigante com retrievers costuma ser o mais popular fora do Brasil. Isso porque esses cães tendem a ser mais tranquilos e delicados, como o poodle, e resistentes aos treinamentos como o golden e o labrador. O poodle gigante é o segundo cão mais inteligente de todo o mundo e conta com a vantagem de, apesar do seu tamanho, não ser espaçoso e nem “folgado”.

Além de cão-guia, os labradoodles e goldendoodles são muito utilizados também como cachorros para pessoas idosas ou crianças com problemas de socialização, como no caso dos que possuem autismo.

Os treinamentos são bem intensos e, enquanto acontecem, especialistas traçam um perfil de cada cachorro, de modo que na hora de selecionar o cego que irá ficar com ele é preciso haver um “match” da dupla. Cão e humano passarão grande parte dos momentos, todos os dias juntos, por vários anos. Após isso, o cachorro pode virar um pet da própria pessoa ou ficará com alguém que tenha um contato íntimo e frequente com seu antigo companheiro.

Instrutor: a importante peça na formação de um cão-guia      

O treinamento eficiente do animal é de suma importância no sucesso da tarefa de guia. No Instituto Magnus, por exemplo, os instrutores permanecem, em média, três anos em fase de aprendizado e passam por diversos módulos seguindo os padrões da Federação Internacional. Inicialmente apenas acompanham os instrutores e observam as atividades e depois a situação se inverte, até chegar a fase em que realizam as atividades com autonomia.

Existem profissionais dedicados ao desenvolvimento dos filhotes e socialização e outros ao treinamento específico do cão, entrevista da pessoa com deficiência visual e treinamento e acompanhamento da dupla.

A supervisão do cão-guia não acaba quando ele é doado para uma pessoa, pois após essa passagem, o instrutor ainda faz a adaptação e acompanha o animal por períodos determinados – sua aposentadoria.

O Instituto Magnus é uma das instituições brasileiras que desde 2016 treina e doa os cães-guias às pessoas com deficiência visual que se enquadram nos requisitos necessários

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